Verso I (Profanação do Sagrado):
Atravessei a Floresta Negra com uma lança forjada no contrafluxo do tempo — metal invertido, ângulos que desafiavam a Euclides, a obtusidade feria o ar como um verso proibido & os papas fizeram ouvidos moucos. Os troncos retorcidos sussurravam equações em aramaico, folhas caíam em fractais de Mandelbrot. A esperança estava devastada em grandes nucleos do negativismo. Não era a floresta, que havia falhado - era o algoritmo: raízes mergulhando em buracos de minhoca, seiva brilhando com radioatividade de estrelas mortas e bombas atomicas lançadas numa solidão solidaria com o odio incomprenssivel do subconsciente. Nas sombras do morcego cosmico colhi cogumelos & derivativos, fungos que eram contratos futuros brotando do húmus de um cosmo paralelo. Suas cápsulas pulsavam cada esporo - um ativo tóxico, uma dívida cósmica a ser paga em colapsos de onda.
Refrão (Glória ao Inatingível):
Lacrimosa — o hino do exoplaneta.
Cheguei à dobra, onde o espaço se dobrava em origami de deus.
O gigante gasoso abria-se: uma catedral de hidrogênio cantando Aleluia em hélio.
Nuvens de amônia riscavam o céu em pentagramas, tempestades eternas eram coros de anjos decaídos.
Eu, peregrino do impossível, sentei-me sobre anéis de diamante líquido.
Mas meu trono era a Terra — pequena, azul, frágil — girando no espelho retrovisor da eternidade.
Verso II (Confissão aos Fungos):
Os cogumelos em minha bolsa haviam germinado em bolhas de Schrödinger. Um deles engoliu meu reflexo: metade de mim agora é real, metade é dossiê em nuvens de dados. Eles me ensinaram a rezar invertido: "Pai-Nosso que estais no vácuo quântico, degenerado seja o vosso nome…". A lança, plantada no solo de metano, floresceu como árvore de Turing — galhos escrevendo códigos em línguas mortas. Perguntei aos ventos: "Quem observa o observador?"
A resposta veio em raios cósmicos: "Somos todos apostas de Deus no cassino de Fermi."
Ponte (Transubstanciação):
Sangue virou hidrogênio.
Os ossos, hélio comprimido.
Meus olhos — dois buracos negros de Hawking —
sugavam a luz dos cometas errantes.
E a Terra, lá longe, tremia:
um grão de areia no sapato do Leviatã interestelar.
Coda (Reza Final):
Oh, Paradoxo Magnífico,
entre a lança e o cogumelo,
entre o gás e o sólido,
entre o "Aqui" e o "Nunca":
deixa que o colapso me encontre
quando o último algoritmo secar.
Amém.
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