Diário de Um Niilista ou o Deus Nada-Infinito
Mergulhado nos fins dos tempos, Nietzsche escreveu: “O sono é irmão da morte, um sinal de esgotamento”. Meu corpo clama, implora por doses de barbitúricos regados com álcool. O sono me persegue; vivo cansado, lânguido. Persigo a anulação de qualquer forma de pensamento profundo. Nunca me concentrei em nada, mas hoje, por mais contraditório que pareça, estou focado no nada. No nada que habita as entrelinhas do Ser de Aristóteles e de Martin Heidegger. Tudo para potencializar meu niilismo, que me cristaliza indevidamente na existência. Quem cunhou a melhor frase do século XX foi Heisenberg, ao enunciar o Princípio da Incerteza — justamente um matemático e físico teórico. O nada é o princípio das infinitas possibilidades, inclusive a possibilidade de nenhuma. Mas, como vivemos na era dos transfinitos, mesmo o nenhuma carrega em si suas próprias infinitudes...
Muitos temem em seus corpos a bala, a faca, a foice, a picada de uma tarântula. Mas isso é justamente a existência se encontrando com o objeto. O objeto e a existência a que todos se apegam, agarrando-se para esquecer o nada futuro. Porém, o nada é o infinito de possibilidades. Existem dois tipos de nada. O primeiro, representado pela equação: 1 segundo dividido pelo Número de Graham antes do Big Bang:
Tempo = 1 Segundo
Número de Graham
O segundo nada é a singularidade dentro de um buraco negro, onde não há mais como saber algo sobre um objeto, um cosmonauta ou mesmo a luz após ultrapassarem o horizonte de eventos da infinita densidade.
Quando focamos no nada, o tempo se dilata. Nisso, Einstein tem razão: para focar no nada, o pensamento deve alcançar a velocidade da luz — 299.792.458 m/s. A velocidade da luz, como toda epistemologia, como todo conhecimento humano, resume-se a um antropomorfismo que se extinguirá quando chegar o nada do último homem no universo. E quando o universo acabará? E Deus? E os Santos? E a Salvação? E o Paraíso? Bem, tudo isso habita o nada. Não o nada antropomórfico, mas o que transcende a compreensão humana. É inútil tentar entender o nada que está além do nada humano, pois ali reside a coisa-em-si — ou simplesmente o nada-infinito.
Muitos me acusarão de querer criar uma nova religião do deus chamado nada-infinito. Enganam-se: a essência do meu deus é o próprio nada, e ninguém tem fé no nada. Dirão que é filosofia, ciência ou um apócrifo manuscrito do Velho Testamento. Novamente, erram: o nada é indefinível. O melhor conselho que posso dar sobre o nada é: aproveitem-no. Comam o nada. Mastiguem o nada. Bebam o nada. Injetem-no nas veias espirituais do deus nada-infinito ou do deus de suas crenças. Pensem o nada, pois o nada não pensa em vocês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário