A força emanada do primitivo sentir é a mesma que faz o bisão correr nas tundras selvagens e a libélula flutuar na tépida primavera. A arte talhada por civilizações transmuta as primitivas sensações em representações culturais. Quando há um refinamento maior - nas representações culturais - dizemos que é uma obra-prima. As geleiras coagulantes exprimem uma natureza superior. O tempo de conservação nestas paragens aumenta. Promove a sensação inscrita nesta natureza. Permite que seja transformada em arte superior por almas mais sensíveis, mais aptas ao exercício da sublimação. Nos trópicos há menos sublimação, porém há mais calor, mais lascívia, mais arte sanguínea, mais priapismo cultural. Os tambores repercutem na selva humana, na alma lapidada das civilizações. A moral tentou engaiolar o espírito dionisíaco. Nietzsche escreveu que Sócrates foi o ideólogo da moral. Colocou grades apolíneas no ditirambo, aprisionou a paixão humana com sua maiêutica. O cristianismo continuou a obra de dominância sobre a natureza humana. O ser foi repelido, foi esmagado por uma humanidade mais hipócrita. A carne expressa pecado. O bode de dionísio foi transformado em ovelha cristã. Por baixo do velocino religioso a alma do lobo uiva. Descartes crucificou as forças da natureza nas suas abcissas e ordenadas. A revolução industrial sublimou a natureza do homem como conteúdo mercadológico. A arte foi massificada. Multidões foram empurradas à estética da violência. As grandes guerras foram cultuadas por gerações do século vinte. Atualmente, a arte deixou de ser a expressão completa, a libertação do desejo como falava Schopenhauer. A indústria da arte monta seus produtos com a mesma técnica das grandes corporações. O artista apenas é responsável por uma parte do imenso quebra-cabeça cultural administrado pelo mercado. O homem é escravo do consumir. A arte é mais um produto vendido nas gondolas dos Shoppings Centers. Sem arte o homem definha, a humanidade caminha em passos largos à extinção. Este é o futuro. O universo tem forças e matérias que a "razão" não alcança. A extinção é parte da expansão do cosmos. Nada restará nem homem, nem arte...
quinta-feira, 20 de junho de 2024
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