Antanho, caminhávamos pelas ruas arborizadas, pavimentadas com lajes de basalto e de grês. De sapatos ou sandálias, sentávamos nas cadeiras dos bares sempre abertos e, como estanho fundido, soldávamos a união de nossos corpos. A música nos levava para lá e para cá, embalando os passos e os sonhos.
As borboletas de outrora voavam com suas asas diversas, sinal da boa qualidade do ar.
Nada parecido com a poluição atual: apenas os pequenos Vemaguetes, com seus motores de dois tempos, lançavam à atmosfera a mistura de gasolina e óleo.
A noite ia e vinha sem acidentes graves, apenas mortes comuns do cotidiano. As balas estavam nos mostruários dos antigos armazéns, não cruzavam o espaço urbano como as traçantes metralhas da situação presente.
Hoje, caminhamos separados, como fantasmas. De vez em quando cumprimentamos alguns vultos — espectros do passado. O belo bairro arborizado cedeu licença à motosserra, que ergueu espigões e tornou nossas vidas mais infernais que o próprio inferno.
Os chafarizes da cidade deixaram de jorrar. Nossas águas de arroios, valos e córregos, que antes abrigavam peixes e corriam límpidas, hoje carregam um plasma escuro, misturado a fezes e mosquitos vetores de doenças terríveis.
Enquanto isso, as ratazanas do serviço público lavam as mãos como Pilatos: privatizam, abandonam, e o povo passa fome.

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