Os Jalmares do Sul estão chegando. Eles vêm do pampa, onde a terra é coberta por uma relva verde — única no Brasil — e o toldo do céu é azul profundo.
Sua rotina alimentar era simples e rústica: carreteiros de capincho e carne seca, gaudéria raiz.
Acostumados a abater capivaras, beber cachaça em guampa de touro e acender fogueiras no campo para se aquecer das rigorosas temperaturas do meridiano sul, viviam como verdadeiros filhos da campanha.
À noite, deitavam-se em pelegos de ovelha e sonhavam com a cidade grande — enriquecer em Porto Alegre.
Finalmente, esse dia chegou. Os Jalmares do Sul alcançaram a capital dos gaudérios, conseguiram empregos e começaram a receber salários.
Com poupanças suadas, noites mal dormidas e alimentação precária, conseguiram juntar um capital considerável.
Foi então que tiveram uma grande ideia: emprestar dinheiro a juros. Sem perceber, tornaram-se agiotas.
Prosseguindo em seu sonho de riqueza na cidade grande, investiram aos poucos em lojinhas de R$ 1,99.
O dinheiro se acumulou, e logo fundaram uma agência de créditos, legalizando assim a agiotagem.
Todos os dias, num rito marcado pelas lembranças amargas do passado — como o mate que sorviam na campanha — reuniam-se no minimercado de um bairro de classe média da capital para recordar os tempos de dureza e gauderismo.
Agora, bem-sucedidos, falavam sobre a vida no campo, sobre o montar nos cavalos de pelo duro, enquanto desfrutavam de carros com bancos de couro macio.
Já pensavam em comprar carros elétricos chineses para “ajudar o meio ambiente”, mesmo explorando o suor dos trabalhadores que lhes garantiam fortuna.
Aos poucos, esqueceram-se do período em que ouviam desafinados cantos de galpão e viviam na simplicidade da campanha.
Assim caminha uma parte da humanidade: entre o gauderismo raiz e a ambição da cidade grande, entre o fogo da fogueira no campo e o brilho frio das vitrines urbanas.

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