A Morte em Frequência Subjetiva
Saí pela avenida após um período de reclusão voluntária. O bulício urbano era ensurdecedor. O dióxido de carbono invadia os pulmões sem cerimônia, enquanto sirenes cortavam o ar com seus efeitos Doppler, compondo a sinfonia tóxica do inferno cotidiano da cidade.
No meio daquele caos, pensei no arroz integral, na paz silenciosa das minhas ervas no jardim. Um instante de bem-estar, uma memória aromática que contrastava com o enxofre expelido pelos canos de descarga de ônibus e caminhões. A cidade respirava veneno, e eu tentava lembrar como era respirar vida.
Pensei então nas cores que não percebemos. Naquelas que escapam à nossa visão, mas talvez estejam lá, vibrando em frequências que ignoramos. A morte nos espreita assim: invisível, silenciosa, camuflada no cotidiano. Não a vemos, mas ela nos observa.
Na minha lógica — aquela que aprendi nos tempos da racionalidade — bastava uma posição no espaço-tempo para que se revelasse o passado, o presente e o futuro. Era uma promessa de previsibilidade, de controle. Mas hoje sabemos: a racionalidade não é confiável. Ela falha diante do caos, tropeça na complexidade, e se perde nas entrelinhas da existência.
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