quinta-feira, 18 de dezembro de 2025


Prelúdio de uma Tragédia Vaticinada 




A condição humana é marcada por uma tensão inevitável: o peso da consciência contra a leveza da existência. Aquilo que outrora foi inocência — a simplicidade dos primatas que fomos — hoje se converteu em densidade. Cada ato carrega consigo não apenas sua consequência imediata, mas o fardo de milhões de atmosferas existenciais.

O espaço-tempo, indiferente às nossas contradições, avança em direção à unidade última: matéria, energia escura, espaço e tempo fundindo-se em um só horizonte. As teorias das cordas, a teoria M e os multiversos tornaram-se a mitologia contemporânea, narrativas que substituem os deuses antigos e oferecem explicações para o abismo que nos rodeia.

Mas, paradoxalmente, enquanto buscamos compreender o cosmos, permanecemos presos às nossas pequenas gravidades pessoais. Assim como os corpos celestes são atraídos pelo astro-rei, eu me vejo atraído por hábitos cotidianos — o lúpulo, por exemplo, que me chama diariamente como um ritual inevitável. Essa metáfora revela o drama humano: somos seres que aspiram ao infinito, mas que se deixam capturar por forças banais e repetitivas.

A tragédia vaticinada não é o colapso do universo, mas o colapso da própria consciência. A velocidade cinética da composição interior — feita de memórias, desejos e contradições — ameaça romper os limites da razão. O ser humano, ao tentar escapar da gravidade da existência, descobre que não há fuga possível: toda busca pela leveza termina em gravidade.

Assim, o prelúdio da tragédia é a própria condição humana. Não somos apenas espectadores do cosmos; somos parte dele, e nele se inscreve o paradoxo de nossa existência: aspirar ao eterno, mas viver no efêmero.






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