Manifesto da Certeza Perdida
Até onde posso ir?
Até onde a memória genética me arrasta, embriagado pela alcoolemia ancestral que pulsa em meu sangue como um eco pré-histórico.
A existência — esse fardo imperioso e, por vezes, inútil — me lança contra os muros invisíveis da razão.
Evoco o tempo em que eu era apenas um primata, um quase-humano, esperando a noite cair para me recolher à caverna, ventre pétreo da minha mãe Lucy.
Hoje, carrego os pesadelos dessa travessia milenar.
Sou feito de pensamentos que me governam sob o disfarce da racionalidade — o bípede implume de Platão, domesticado por ideias que não são minhas.
Não sou dono de mim.
Sou produto embalado pelas tecnologias ideológicas da exploração consolidada.
Mas ainda pulsa em mim a raiz dos instintos, dos coacervados, das químicas primitivas que moldaram o primeiro sopro de vida.
O saber verdadeiro é o que nunca saberemos.
O tempo, esse alquimista silencioso, guarda revelações que desafiam nossas constantes universais.
Será tudo dissolvido na próxima ciência?
Ou encontraremos convicções na certeza da ignorância intransponível?
Jacta est.
O Rubicão foi cruzado — ou talvez existam infinitos Rubicões, espalhados por universos paralelos que jamais tocaremos.
Trocaria todo o ouro do mundo por uma única partícula de certeza.
Este manifesto é um grito contra a ilusão da completude.
É a afirmação da dúvida como força vital.
É a recusa em aceitar que o mistério seja um erro — quando, na verdade, é a única verdade que nos resta.

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