Brinde Cósmico à Efemeridade
Levanto a taça tóxica, repleta de isótopos decadentes, brindo à morte que dança nos interstícios do meu caos atômico. Ela é a fiandeira silenciosa, tecendo fios quânticos entre véus de matéria escura — sou eterno não na forma, mas na coreografia invisível das partículas. Meu corpo é um arquipélago de estrelas extintas, cada átomo um verso de um poema escrito por supernovas.Teoria das cordas, somo acordes invisiveis do que não vemos..
Na próxima jornada, talvez seja asa cortando ventos interestelares,
ou guelras filtrando oceanos de metano em luas distantes. Poderia ser ouro, relíquia de colisões entre estrelas cadentes, ou plutônio, memória ambulante de um sol despedaçado. Homem, mulher, ou o entrelugar onde os gêneros se fundem em plasma — já fui tudo isto...
A existência é verbo, não substantivo; fluxo de possíveis em espiral. Tudo é fluxo, rio de heraclito,,,
A morte? Apenas um eclipse momentâneo na trajetória do elétron.
Desmontamos o teatro neuronal, sinapses que viram cinzas de fogos de artifício cósmicos. O que chamam de "fim" é o desatar dos nós que nos prendiam ao mito da imortalidade — enquanto a eternidade ri, líquida, nos rios de Higgs que permeiam o vazio. & Democrito criou a teoria dos atomos... Platão errou o enredo: não somos animais implumes, somos tempestades de poeira alquímica, restos de nebulosas que sonham... Nossa racionalidade é um fóssil transitório, um grão de areia no relógio de pulsares que marca eras galácticas, a clepsidra de Einstein... Tudo que fui um dia será raiz de uma samambaia em Vênus, ou o brilho suspeito em um peixe abissal. Minhas palavras, agora elétrons livres, ecoarão em cordas cósmicas, enquanto meu carbono, forjado em fornalhas estelares, se fundirá ao mármore de uma lápide em Andrômeda. A saga verdadeira não está na carne, mas no êxtase dos elementos: - somos caos e ordem bebendo do mesmo cálice estelar. E quando até os buracos negros evaporarem em suspiros de radiação, meus fótons errantes seguirão cantando — a mesma canção que os primeiros átomos entoaram ao acordar, órfãos, no útero frio do Big Bang.
Notas de Rodapé da Existência:
Imortalidade é um erro de cálculo; eternidade é a equação que dança nas entranhas do tempo.
Somos o intervalo entre dois zeros, o hífen cósmico entre Big Bang e entropia máxima —
e nesse breve instante, bebemos da taça tóxica e brindamos à beleza de sermos efêmeros.



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