terça-feira, 14 de outubro de 2025







Monólogo: “O Último Acorde do Universo”
(Luzes baixas. Um personagem solitário no centro do palco. Veste um traje que mistura jaleco com túnica. Há uma caixa no chão — metáfora da caixa de Schrödinger. Ele fala para o vazio, ou para o público invisível do cosmos.)

PERSONAGEM:

Curo a harmonização com o caos cósmico irredutível.
Não por escolha. Por necessidade.
Porque o universo não pede licença — ele colapsa.
Os gatos quânticos estão todos aninhados.
Na caixa.
Na dúvida.

Na dança entre o ser e o não-ser.
Vivos ou mortos — ou ambos.
Código binário.
Never mind.
As partículas subatômicas viraram deuses.
Dentro dos ciclotrons, elas colidem como titãs.
Criam mundos em miniatura.
E nós?
Nós assistimos.
Registramos.
Publicamos em periódicos que ninguém lê.
Os físicos agora nos falam de universos paralelos.
Impalpáveis.
Distantes.
Enquanto aqui, neste plano amargo,
sobrevivemos com as pontas extremas do sistema digestivo.
Ad náuseam.
Caminhamos de mãos dadas com o destino cruel.
Com a tragédia que será nosso final
Livre-arbítrio?
Manipulado.
Pelas quatro forças que regem tudo:
Gravidade.
Eletromagnetismo.
Nuclear forte.
Nuclear fraca.
As bíblias da ciência.
Mas não basta.
Nunca basta.
A fórmula total ainda escapa.
Eis que surge a força escura.
A matéria oculta.

A sombra que ri da nossa ignorância.
A teoria da corda?
Rebentou.
Não vibrou.
Não cantou o acorde final da sinfonia.
Aquela que ecoa por todos os infinitos.
E eu?
Eu escuto.
Eu espero.
Eu vibro — em silêncio.
(Ele se aproxima da caixa. Olha para ela como quem encara o próprio destino.)
Talvez o universo seja apenas isso:
Uma caixa.
Um gato.
Uma dúvida.
E nós — partículas conscientes —
esperando o colapso da função de onda.


Peça Teatral: “Sinfonia do Vácuo”
Estrutura:
Gênero: Drama existencial-cósmico com elementos de poesia e filosofia
Formato: Monólogo intercalado com aparições de vozes e entidades
Cenário: Espaço abstrato — uma mistura de laboratório, templo e vazio estelar
 Personagens:
O Harmonizador (protagonista): Cientista-poeta que tenta decifrar o universo através da linguagem e da física. É quem conduz o monólogo principal.
A Voz da Ciência (off): Uma entidade que recita leis, fórmulas e verdades absolutas — fria, precisa, impessoal.
O Gato Quântico (presença simbólica): Não fala, mas aparece em momentos-chave, representando a dúvida, o paradoxo, o destino.
A Entidade Escura (voz distorcida): Representa a matéria escura, a força invisível, o mistério que escapa à razão.
O Humano Comum (interlúdio): Surge brevemente para trazer o contraste da vida cotidiana — fome, amor, medo, esperança.

Ato I — “A Caixa”
(Monólogo do Harmonizador — já apresentado acima)
Tema: A dúvida, o paradoxo, o início da busca.

Ato II — “As Cordas Rebentadas”
(Luzes tremulam. A Voz da Ciência entra em cena, como uma gravação ou projeção.)

VOZ DA CIÊNCIA:

Gravidade.
Eletromagnetismo.
Força nuclear forte.
Força nuclear fraca.
Quatro pilares.
Quatro colunas.
Quatro véus.
(O Harmonizador responde com ironia e dor.)

HARMONIZADOR:

E ainda assim...
Nada vibra como deveria.
As cordas rebentaram.
A sinfonia falhou.
O universo desafinou.
(O Gato Quântico aparece. O Harmonizador o observa.)

HARMONIZADOR:

Tu és o maestro do paradoxo.
Vivo e morto.
Presente e ausente.
Tu és o sim e o não —
E eu sou apenas o talvez.
Ato III — “A Entidade Escura”
(Som grave. Voz distorcida ecoa.)

ENTIDADE ESCURA:

Eu sou o que não pode ser visto.
Sou massa sem luz.
Sou força sem toque.
Sou o que falta na equação.

HARMONIZADOR:

Tu és o silêncio entre as notas.
A pausa que ninguém escreveu.
A sombra que pesa mais que a luz.
(O Harmonizador tenta dialogar, mas a Entidade desaparece.)
Ato IV — “O Humano Comum”
(Um personagem simples entra. Roupa comum. Olha para o Harmonizador.)

HUMANO COMUM:

Eu não entendo tuas fórmulas.
Mas sinto fome.
Sinto medo.
Sinto amor.

HARMONIZADOR:

E talvez isso seja mais real que qualquer teoria.
Talvez o universo seja apenas isso:
Um corpo que sente.
Uma alma que busca.
Uma dúvida que pulsa.

Ato V — “O Último Acorde”
(Todos os personagens em cena. O Harmonizador no centro. Luzes se apagam lentamente.)

HARMONIZADOR:

Se houver um acorde final,
que ele seja dissonante.
Que ele nos lembre que o caos também canta.
Que o universo não precisa fazer sentido —
apenas ecoar.
(Silêncio. Fim.)



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