sexta-feira, 19 de setembro de 2025

 



Uma canção triste e seu pet eram as únicas coisas que ainda tocavam seus sentimentos — sedimentados por detritos existenciais. No fim da tarde, sentava-se numa mureta que contornava um posto de gasolina. Abrias latas de cerveja e observava o bulício da avenida central. Seus olhos lacrimejavam, não apenas pela poluição dos canos que exalavam dióxido de carbono, mas porque aquilo lhe oferecia a ilusão de um sentido real fora do seu quarto escuro e sujo, onde livros jaziam espalhados pelo chão e garrafas vazias repousavam sobre as lajes de cerâmica. Seus poemas, manchados pela vida, começavam a se deteriorar sob a ação do tempo e das traças implacáveis.

Algumas pessoas passavam diante dele, mas nada de novo no front: pareciam vultos, os mesmos que sombreavam seu quarto sob a luz tímida da lâmpada frugal — não representavam coisa alguma. Era como uma versão moderna e psicológica da caverna de Platão, aprisionando todos em telas digitais. Eles não possuíam vida própria, apenas insinuações óticas, sombras de uma fogueira falaciosa alimentada pela arrogância extrema.

Enquanto isso, carros ultramodernos subiam a rua paralela em direção às mansões. Ali, reinava o conforto sustentado por um capitalismo discriminatório. Não havia sentimentos em suas almas — apenas arrogância e consumismo desmedido. Resta saber: quanto tempo essas saúvas do dinheiro ainda levarão para devorar o planeta?

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