Nada nasce por si. Tudo já dormitava no ventre do Nada — um útero primordial onde a coisa-em-si era ausência e plenitude simultâneas.
Nada nasce por si. Tudo já dormitava no ventre do Nada — um útero primordial onde a coisa-em-si era ausência e plenitude simultâneas. Antes do Big Bang, o vácuo não era vazio: era uma gestação de infinitas possibilidades, um ovo cósmico incubando paradoxos. A matéria, hoje, é apenas energia congelada em forma de estrelas e ossos; o universo, um teatro de relatividades onde até o tempo se curva aos caprichos da gravidade.
Nós, seres equacionais, tecemos teorias como teias de aranha sob um furacão. Cada fórmula — das leis newtonianas às cordas quânticas — é um mapa provisório, uma cartografia do efêmero. Testamos, medimos, dogmatizamos... até que a flecha do tempo, implacável, desintegra nossos absolutos e os lança ao esquecimento. A Entropia ri, expansiva, enquanto convertemos caos em narrativas.
E no meio disso, a sociologia — essa Sísifa moderna — tenta racionalizar o vômito humano: tribos digitais, paixões algoritmizadas, revoluções que morrem antes de nascer. Queremos enquadrar o movimento da vida em gráficos de Pareto, como se o desejo obedecesse a estatísticas. Mas o humano é um buraco negro de contradições: ordenamos átomos enquanto sangramos poesia; buscamos sentido em um cosmos que, talvez, só exista por acidente.
Será que o Nada, afinal, é o único deus que resta? Aquele que, após o último fóton se apagar e a última galáxia desmoronar em pó, sorrirá novamente no escuro — intacto, indiferente, grávido de novos big bangs?"
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